“Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
Um coração aberto ao mundo que desafia e fortalece a nossa fé, que mostra a serenidade pedagógica para agir frente aos desafios climáticos e a determinação da confiança no Pai e ainda a amizade entre as pessoas com os mais diversos pensamentos e ideais.
Na primeira leitura (Jo 38, 1.8-11) Jesus faz um questionamento a Jó: “quem fechou o mar com portas…?” E lembra outros aspectos do ímpeto das águas e diz ainda: “Até aqui chegarás, e não além, aqui cessa a arrogância de suas ondas?” Com essas falas e mais outras sobre a criação do mundo que são lembradas para mostrar que as ações acontecem por ação do Criador e que são necessários alguns elementos pra refletir sobre a inteligência, a sabedoria e até mesmo sobre a arrogância para firmar a autoridade Celeste e reconhecer a criação do Senhor e sua força, sua bondade e nossos limites.
Também vale ver o Salmo 106 (107) 29.30 que exalta a misericórdia do Senhor e dá graças ao Senhor porque ele é bom.
O Senhor transforma a tempestade em bonança e as ondas do mar se acalmam. Por tudo isso há uma tranquilidade e uma grande alegria, quando são socorridos em seus apelos. Ficam gratos pelo amor e pela maravilha do Senhor para com a humanidade.
No evangelho (Mc. 4,35-41), no contexto de uma travessia de barco para o outro lado do lago, Jesus demonstra sua tranquilidade ao ser acordado pelos discípulos em meio a uma tempestade. Ele os acalma, pois estavam muito assustados e eles se questionam: “que homem é esse que manda até no vento e nas ondas?”
Nesse momento Jesus mostra por meio dos discípulos que a nossa fé é frágil, que precisamos nos fortalecer, acreditar mais em nós, na ciência, na experiência e ter consciência de nosso potencial.
Por isso, é importante aproveitar fatos concretos da vida para perceber que há necessidade de desenvolver mais a proatividade no cotidiano e na vida.
Existem fatos que acontecem para servir de alerta. Por exemplo, a tragédia do Rio Grande do Sul que foi anunciada e divulgada por técnicos e cientistas há mais de dez anos, de que essa devastação poderia ocorrer. Teria como evitá-la? Quem sabe poderia ter sido amenizada, mas para isso, seria necessário estabelecer em nossas sociedades um conceito mais concreto de cuidado.
Conhecer as informações, aprofundá-las, implementá-las após discussões e aprovações das autoridades competentes, com a consciência de que há necessidade de unir, o conhecimento técnico científico sem descuidar das experiências de vida para fazer um trabalho comum, ou seja, cuidar da casa comum, como tanto nos convida o Papa Francisco.
Precisamos fortalecer a nossa fé e nos unir para cuidar uns dos outros, fazer despertar a consciência de que a salvação da humanidade é possível e depende de cada um de nós, de nossas ações.
Quando Jesus é acordado no barco para socorrer os discípulos que estavam com medo da tempestade, ele os socorre de forma tranquila, os acalma, e ordena ao vento e ao mar que fiquem calmos. Nas tragédias como essa que ocorreu bem perto de nós, no Rio Grande do Sul, as pessoas foram despertadas por sentimentos de afeto, solidariedade e compaixão em todo o país. Esse fato também gerou nos governantes a necessidade de conhecer os estudos científicos e tentar colocá-los em prática. Essa poderá ser uma boa lição.
Esse exemplo serve para mostrar que o conhecimento prevalece e que aprofundar os estudos, buscar mais informações é sempre um bom caminho para que haja mais solidez nas ações. O fato de Jesus ter falado duro com o vento e ao lago pedir silêncio, apresenta a possibilidade de usar autonomia sem ser autoritário e ao mesmo tempo ter a humildade de aceitar outras sugestões e ter outras atitudes.
Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco nos alerta: “Ocorre lembrar que ‘entre a globalização e a localização também se gera tensão…” “É preciso olhar para o global, que nos resgata da mesquinhez caseira”, o diálogo e o bom senso devem prevalecer em nossas vidas e em nossas ações.
Aproveitar experiências de outras localidades será sempre um bom caminho e poder contar com todo tipo de ajuda, combater as distorções e aprender a cuidar uns dos outros fortalece a cultura da fraternidade e do bem comum. É aplicar uma frase muito dita por nossos avós: fazei o bem sem olhar a quem.
Socorro Sales
Brasília (DF)